sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Where is my mind?

Como se a informação não fizesse sentido e as palavras não ligassem umas com as outras. Como se as frases fossem códigos demasiado difíceis de descodificar. Cabeça perdida, destruída. Sem capacidade para pensar. Como se passasse o dia a andar á roda, com uma embriaguez infinita, como se estivesse tonto sempre e para sempre. Já não sei escrever, e agora nem se trata de construção de frases. Mas de palavras. Já não sei como se juntam as letras, como se atacado por uma dislexia de 20 metros, que me engole, e me torna estúpido. Atacado pela burrice. De repente sinto incapacidade. Sinto fragilidade psicológica. Como se os fusíveis tivessem queimados. Como se de volta aos meus 6 anos, tivesse perdido a capacidade de percepção, de audição, de concentração, e me tivessem passado todas as lições ao lado. Minto para me tornar mais desculpável a mim mesmo. Fico triste. Mais susceptível. Mais aberto. As palavras já me saem sem me doer. E perco o medo de dizer o que sinto, á medida que a burrice me ataca. Como se drogado. A minha cabeça deixou de andar na lua para andar debaixo de água, a ouvir tudo enfadado. Bruarhag, arhm ahrimah. A informação não circula lá fora. Perdi-me. Como se em semanas fosse uma pessoa diferente. Morto por dentro.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dia dos namorados

Ontem acordei e pensei...
hoje à noite,
quando chegar a casa,
vou escrever sobre o meu dia dos namorados.
Depois cheguei a casa.
Não aconteceu.
Não me apeteceu.
Não escrevi nada.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Explosões no céu

Tomamos decisões baseadas em nós próprios. No que nos vai cá dentro. Quando o que cá anda fora é tão velho e sabido. Tomamos decisões e falhamos. Caímos. Decisões baseadas nos instintos, no quão quente nos corre o sangue e na rapidez que nos aquece a carne. As mais difíceis são as que perduram.
O apito. Que era o seu único sinal de vida. Foi a primeira coisa que reparou quando acordou. Como se fosse o inicio de um filme. Que era seu. Um desvanecer do preto ao primeiro plano. E uma linha verde que apitava.
Tomamos decisões que nos mudam a vida. São fracções de segundo. Ou as fracções de segundo. Que fazem haver explosões no céu. Que Determinam a tinta com que é pintada os nossos dias, o brilho, o contraste. A textura.
Os pés, que estavam lá, não existiam. De repente, a força que tinha de fazer para levantar uma perna era mínima. Dormente do joelho para baixo, sentia a presença da perna que já lá não estava. Espasmos numa perna que já não existia. A outra perna, a esquerda, tinha ficado completamente desfeita. Foi também amputada e estava ligada. A primeira imagem que teve foi de, eu estou num pesadelo. A segunda foi desespero. Pôs as mãos nas pernas e no vazio para apalpar o que já não existia. A cara de espanto misturada com apatia. O grito de desespero preso na garganta. As lágrimas presas nos olhos. O sangue parado. As mãos frias.
Tomamos decisões sem pensar. O foleiro do, nos pensamos que só acontece aos outros, é foleiro por alguma razão. É porque é verdadeiro. Tomamos decisões porque queremos viver, e viver é arriscar. Arrisca. A vida é para isso. Dá tudo e não percas oportunidades de preencher os desejos e os sonhos. Mas não te esqueças que por vezes amputam-nos as pernas. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Toma a tua mão de volta

Porque é que eu escrevo? Porque é que gasto tempo a passar para palavras o que me vai na cabeça? Eu que sempre achei a escrita uma actividade absurda e chata.
Escrevo porque me liberta. Tiro tudo de cá de dentro, para poder conseguir saltar. Escrevo porque registo o que penso acreditando ou não. Escrevo como tiro fotos. Escrever é como tirar fotos ao meu interior e ao não palpável. Para não esquecer. Para relembrar. Eu gosto da nostalgia, é um sentimento que nos fica bem. Mas porque é que as ponho p’ra fora? Porque é que publico? Porque é que me exponho? Exponho-me na esperança que gostem de mim. Escrevo e dou porque gostarem do que escrevo é gostarem de mim. Porque quero mais alguém aqui dentro. Provavelmente não o mostro, mas a resposta é o que me mantém a andar. O feedback é que me põe a andar. Continuo porque sei que não é em vão. Que do outro lado estás tu, que lês. E que voltas. Que me dás a mão sem saber. Obrigado. Por voltares, por gostares. Por me aceitares como partilha. Obrigado,

toma a tua mão de volta.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Midnight City
Ainda penso em ti de vez em quando. E sorrio.
Lembro me de ti e de todos os momentos bons. Os maus,
que foram posteriores a ti, esses que me levaram a saber o que era ao amor,
foram esquecidos. As feridas sararam e as cicatrizes, já não as sinto,
recosturado. Remodelado. Penso em ti mas já não tento montar as peças,
não te tento perceber. Como se o tempo fosse o suficiente. Agora sei o que éramos,
agora sei mais coisas que penso ter aprendido e aprendido a aplicar contigo. Conheço-te melhor agora. Quando me lembro apetece-me falar contigo. Mas não há razão para estragar
um silencio que tem crescido tão bonito. No silêncio, mesmo à distância, nasce qualquer coisa parecida com saudade. Que não é saudade. Mas que tem porções de vontade.
Não há razão para te perguntar o que não quero ouvir, nunca será suficiente o que quero ouvir. E se te perguntasse iríamos ambos perder algo, que fica mais bonito guardado na memória meio estragada.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Ninguém é quem queria ser

Eu não sou quem queria ser. Ninguém é. Assim diz o Manel e eu acredito piamente. E confirmo. Ninguém é quem queria ser. Os ideais são demasiados idealizados. Demasiado distantes. O que eu quero ser está sempre uns bons metros à frente dos meus braços. E se alguma vez eu lá chegar, não chegarei. A minha vontade estará sempre à minha frente. Até podes bem estar a pensar, isso não é verdade eu sou quem eu quero ser. Não és. Até podes gostar de ser quem és, até podes não pensar nisso. Mas os teus ideais são ideais. Quem tu queres ser nunca vai existir, pelo menos não dentro do teu saco. Contudo não pretendo ser desmoralizador, não quero dar um workshop em como ser pessimista. Isto é bom. Não seres quem queres ser é bom. Ninguém é quem quer ser porque quer mais. Querer mais é bom. Com pausas de contentamento, para descansar. Querer mais é o que te leva à frente. E quem não tem vontades não vive, não ter vontade é morrer. É como sentir. Quem não sente não vive. Passeia-se. Ninguém é quem queria ser. Mas tenta. As distâncias existem porque existe a proximidade. Porque existe o vazio e a união. E se um dia não te apetecer tentar, pára. Pára completamente, relaxa e contenta-te. Concentra-te em ti. Contempla-te. Até teres folgo para voltar a tentar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Não sinto nada. Tento. Esforço-me. E não sinto nada. Mãos frias que mais parecem quentes. Coração quente que mais parece frio. Tento. E não sinto nada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

While my lady sleeps


Corria para não chegar atrasado. Bastava um minuto depois para um minuto de atraso se transformar em uma hora em adiantado. Corria sem ar nos pulmões. Cheguei a tempo. Com as entranhas a saírem-me pela boca. Olhei, e parada de telemóvel na mão estava ela. E a lembrança de todos os olhares com sorrisos, de todas as vezes que o olá me ficou engasgado na garganta. Olhou-me nos olhos, olhei de volta. Sorriu. Fugimos. Voltámos a olhar. Sorrimos. Fugimos. Por trás dos riscos traçados no ar de olhos a olhos, veio o silêncio. Silêncio unicamente interrompido pelo meu pensamento.
Devias ter-lhe falado, perdeste a oportunidade.
Chegou o autocarro. Cedi-lhe passagem. Sentou-se algures num lugar vazio no meio entre a entrada e a saída. Mais lugares vazios que pessoas. Passei por ela. Sentei-me cá atrás. A viagem de uma hora demorou dez minutos, magicava uma maneira de lhe falar. Vou-lhe escrever um bilhete, é isso. Escrevo qualquer coisa a desculpar o meu jeito de comunicar próximo do que é utilizado na escola primária, pode ser que ache piada.
Rrrrrcc!
Foi preciso tirar a folha do caderno para me lembrar que não tinha caneta.
Merda. Vou ter de deixar para a próxima. Mas a próxima pode ser muito tarde e se não for hoje não vai. Hoje não tenho medo da vergonha, hoje é hoje. Eu sei a paragem que ela vai sair… É uma depois da minha, saio com ela, dou-lhe o bilhete. É isso. Mas não tenho caneta… Vou escrever com a chave. Vou marcar o papel, mas assim só posso escrever o meu número de telefone. Se não for hoje não vai ser…
Marquei o número com a chave.
Deve de ser o pior bilhetinho do mundo. Nem sei se dá para perceber alguma coisa.
Respirei fundo.
Tem de ser hoje, se não for hoje não vai ser. Mesmo com números marcados com a chave de casa num papel.
Passou a minha paragem, chegou a dela. Olhei-a para perceber a rapidez com que ia ter de sair, ela olhava à volta parecia que me procurava. Olhei-lhe para as mãos com esperança de ela também ter um bilhete. Não tinha. Demorei um pouco para deixar passar as pessoas à frente dela. Tempo perfeito. Desci as escadas de saída, ela vinha atrás de mim. Virei-me com o papel na mão. Estiquei o braço.
É para ti.
Obrigada – sorriu.
Virei a cara, comecei a andar. Vi tudo nublado. E apeteceu-me saltar e fazer yupi. Consegui.
Mas que raio de bilhete foi aquele que lhe mandaste?
Eu tou maluco.
O que é que se passou? Podias bem só ter falado com ela.
Eu sei… Ao menos sorriu.
Ela nunca te vai dizer nada.
Fez-me parecer que tinha 6 anos. Ela fez-me parecer que tinha 6 anos. 
Cheguei a casa e sentei-me de telefone na mão. Adormeci. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Nature Boy

Bêbado. Mal conseguia andar em linha recta. Mal conseguia ver para além do nublado. Mal conseguia chegar a casa. Mas era para lá que caminhava, nas ruas vazias, de madrugada. As luzes de um carro bateram-me nas costas sem me alarmarem, continuei a andar.
Desculpe! Sabe-me dizer onde é a rua R?
Era uma senhora. Não me lembro da cara dela, lembro-me vagamente das roupas que usava e da sua altura. Lembro-me vagamente da sua magreza. Lembro-me vagamente de como falava.
Volte para trás, e vire à direita, suba e depois vire outra vez à direita e suba até encontrar o cruzamento, depois vire à esquerda e…
Também vai para essa zona?
Sim, mais ou menos.
Então não quer vir comigo? Eu depois dou-lhe boleia até onde quer ir. Tenho que ir à casa da minha irmã. Mas tou perdida.
Dei um passo em frente e ela voltou costas em direcção ao carro preto, de faróis apontados e porta aberta. Entrei no carro. Parecia novo e cheirava bem. Fez inversão de marcha. Começou a falar da casa da irmã, ou irmão… ou coisa parecida. Andava muito devagar. Muito devagar. Meteu a mão a uma revista que tinha no tablier do carro. Abriu uma página no meio e deu-ma prás mãos.
O não sei quantos, grande carro. O meu pai tem um desses e emprestou-me quando fui para Espanha, anda tanto! Mal começava a acelerar e era logo vruuuuu! Quando me habituei não queria outra coisa…
A 20 km por hora eu acenava com a cabeça e interrompia para…
Vire aqui à direita…
Tirou-me a revista e voltou a página. Mais carro. Pousou-a no meu colo.
Estás a ver esta parte? Isto faz isto e aquilo.
E apontava com o dedo em cima da revista, e apontava com o peso da mão. E virava a página.
Estás a ver estas duas gajas? Mesmo boas. Eu estive com uma amiga da que está à direita, quando fui a Espanha. As espanholas são malucas. Logo a atirarem-se a mim. Sim, eu sou bissexual. Grandes mamas, estás a ver?
E apontava com força. E retirava a revista, virava a página e segurava-a com o vértice contra a minha braguilha. Mais duas e três páginas. A minha pila pulsava contra as calças e contra a revista.
Eu sou da cidade 2878, aqui sou estrangeira, não sei onde ando.
Lá a frente vire à esquerda…
Mas tas a ver essas gajas? Foda-se, mesmo malucas. Tu não te metas com espanholas, elas fazem de ti o que querem. Ainda por cima com estas mamas. Quantos anos tens?
Dezasseis.
Hum, estás muito bem constituído para a idade. Eu tenho 36.
Já só conduzia com uma mão, a outra segurava a revista com força e os olhos mais para o lado que para a frente. O pé mais no ar que no acelerador. E eu quase calado, sem reacção às centenas de palavras por segundo ou à pressão desconfortável que as minhas calças já impunham.
Chegamos… é aqui a rua R…
Abrandou o carro, quase parado, no meio da estrada, pousou a mão no meu colo e sentiu o pulsar. Não tive reacção. Fiquei parado a olhar para ela. Pôs-me a mão no cinto…
Espera, deixa-me estacionar.
Estacionou. Apagou as luzes. Desapertou-me o cinto e a braguilha, meteu-me a mão dentro dos boxers. Tirou-me a pila pra fora, que a esta altura já era caralho. Mergulhou com a cabeça. Contraí o abdómen. Perdi a noção do tempo. Não sei quanto tempo se passou enquanto mergulhava e vinha a cima. A minha mão já caía sobre a cabeça dela para ajuda-la a afundar qualquer coisa na garganta. Agarrou-me na mão e puxou-a para si. Fugi.
Não tenhas medo, também não costumo fazer isto, eu sou séria, eu sou casada, eu tenho dois filhos.
Voltou a pegar-me na mão. Desta vez deixei-a levar-me a explorar sítios nunca antes explorados pelo meu corpo. Molhada, encontrei entrada aos gemidos…
Abri a porta.
Deixa, eu levo-te. Eu disse que te levava.
Arrancou.
É aqui.
Estava a 2 minutos de minha casa.
Não me queres dar o teu número?
Não.
Fechei a porta. Esperei o carro ir. E fui-me.
   

BEAUTIFULUNIVERSEMASTERCHAMPION

Há pessoas que possuem o dom da palavra. Há pessoas que falam e enchem-te o coração. Mesmo a falar de chungaria. Que falam com o corpo todo, que tocam com as palavras e com as mãos, mesmo à distância. Que são pessoas. Mesmo com brutidade nas palavras. Caralhos e conas e fodas. Transformam-se em palavras bonitas. Nos olhos vês-lhes o coração. Está lá escrito bondade. Com uma fonte toda estilizada, feita à mão. Pessoas que não têm medo de pessoas. E das peles. Sou teu, mesmo que mal me conheças. Sou teu amigo. O meu pensamento ao teu serviço. Confio em ti pelo teu olhar. A raridade. A genuinidade. Leva-me contigo, para o teu Porto.