segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Joana

O saber que já conheci, em tempos, a miúda mais linda de sempre, e que hoje revi através da minha janela favorita, faz de mim mais feliz. Porque os amores impossíveis são o meu ponto forte, e as minhas mais valias são para mostrar. Se me fosse pedido que te desenhasse desistia antes de pegar no lápis. Se me fosse pedido que te desejasse sorria e fingiria que seria a primeira vez. E se por milagre te fosse pedido o mesmo a ti, fingia que era a minha primeira vez, porque era como devia ter sido. De ti só queria que quando os teus olhos azuis cruzassem e intimidassem os meus te lembrasses que em tempos me conheceste e dissesses olá. Já me irias salvar o dia, seja qual for. De mim só queria ser capaz de te olhar como sempre quis, agora sem medo de morrer.

sábado, 29 de outubro de 2016

O cheiro da comida que queria comer acolchoava as paredes. Dançava em cima dos trompetes e por entre as linhas de baixo do liniker, sozinho. Não havia mais ninguém. Paz e silêncio por trás da música que sabe a manhã de sábado. O benfica não existia, não existiam políticos nem crise, não existia o teu corpo. Não existia o nosso amor, só o meu por alguém melhor. Só o meu pelas coisas doces. Só a sensação de conforto dentro de mim, só o querer viver. O sol de inverno a aquecer o vento fresco nos meus braços, podendo fechar os olhos ao compasso dos passos do cavalo então tranquilo. E o saber que seria útil, que iria criar algo novo todos os dias, que iria combater para chegar à perfeição possível meio conformado com o ritmo das buzinas matinais. O cheiro da comida que queria comer acolchoava as paredes. Dançava em cima da guitarra e por entre as linhas da voz do buarque, à espera que acordasse o meu amor, para o mundo perfeito que desenhei para nós.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Eu sou nada. Tu és nada. A vida é nada. Não existe razão para viver. Não existe razão para não viver. Os valores e a moral não existem. A religião é um invenção e um apego dos que têm medo da morte. Não há razão para estar aqui a escrever. Não há razão para não estar. As coisas valem tanto quando vale a existência. Apenas os idiotas procuram o significado da vida. Viver não existe, só existe morrer.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Dissolver

Sinto a faca a torcer na carne com o pensamento que já não aqui estás. As gotas de sangue que bem podiam ser lágrimas molham tudo, a pilha de musicas que me dedicaste um dia dentro de uma caixa com o meu nome molhada. Agora que já não existo ai, a tua voz continua a cantar "baby i'm yours until the poets run out of lines", mas noutro ouvido, deitada noutro peito. Os choros continuam-me a comover. Assim como as letras que não me escreveste mas que as tuas palavras repetiam para que eu acreditasse que sim. Sinto-me cada vez mais ridículo com o passar do tempo, por várias razões as palavras que escrevo cada vez me soam mais foleiras, já as que continuo a ouvir ecoar no coração parecem-me mais reais que nunca, mais doídas que nunca, mais impossíveis que nunca. O ar de dor com que te olho sempre mas que escondo atrás do olhos, só é perceptível na primeira fracção de segundo em que ainda não sei que és tu para quem estou a olhar, mas ele está cá. E torna-se mais presente de vez em quando, vai e vem, por vezes mais fraco, outras mais forte. A faca torce e o sangue escorre, transformou o riacho que antes era amor e que corre sobre tudo o que era nosso, sobre tudo o que era teu para mim, por vezes mais fraco, outras mais forte. A chuva veio e começa a cair agora sem grande força no Outono, começa de leve a lavar e a levar o sangue pelo riacho pequeno. Há-de vir mais forte também a chuva, e há-de vir tão forte que inundara tudo e forçará um riacho de água que levará tudo, que lavará tudo. O rio vai ficar cá, o sangue é que vai correr e morrer no mar, dissolver.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

acredito que numa história de amor, o amor não chega simplesmente ao fim. acredito que que na maior parte dos casos uma relação acaba porque morreu a paixão, porque deixou de haver aquele fogo intenso que morre muito com o fim dos mistérios e que por vezes se torna difícil de manter aceso. quando falo de relações pressuponho uma duração relevante, que dê tempo ás coisas de se formarem, criarem e morrerem, ou não. o amor à primeira vista não existe, é impossível e absurdo. amor é como o carinho, é criado em porções mínimas e precisa de uma estufa para crescer, de sol, de água, de tempo. o amor à primeira vista é confundido com paixão demasiadas vezes, paixão à primeira vista já acredito piamente, eu apaixono-me a cada virar da esquina, já o amor, preciso procurar debaixo das pedras da calçada. e é por isto que não acredito no fim do amor assim, do nada, ou num tempo limitado. o fim das relações doí porque há amor. ou chegamos ao fim da paixão e queremos aquele amor para sempre, acreditando que a paixão acende e apaga, ou percebemos finalmente, já na sobriedade do fogo extinto, que amor não é suficiente, e que todas as razões que mataram a paixão, os motivos de todas as discussões e as cicatrizes que deixamos uns nos outros, são o ponto final numa relação que tem os minutos contados. o amor, esse fica durante mais um tempo, a espicaçar as entranhas sobre as decisões tomadas, sobre as drogas, hormonas e feromonas cuscas e intrometidas, até que um dia dizemos obrigado por não termos desperdiçado o dia em que te conheci no nado-morto agora enterrado. obrigado pelo peso das tuas palavras.

domingo, 2 de outubro de 2016

Gosto sempre de escrever bêbado. quando tudo o que tenho para dizer está a ecoar na garganta vindo do fundo dos pulmões. Gosto de escrever quando os meus dedos ainda sabem onde é o B mas não sabem qual é o ultimo. Sempre que vejo os teus olhos o meu coração corre, forte e ao mesmo tempo frágil, porque a vontade não é sinonimo para força e eu não sei o que é ter os dois. Adoro quando finges que não te vi a cagar e a vomitar, e o cagar e o vomitar. gosto tanto, gosto mesmo. Adoro quando não sabes quem sou... Eu sou quem te viu tudo mas já não te quer, felizmente. Eu sou quem te vê sempre no altar, mas te vira as costas como autoridade corrompida e não verdadeira. Gostava que me tratasses da mesma forma na solidão que na companhia, gostava que fosses menos egoísta, como sempre quis. Infelizmente não mudaste assim tanto. gostava que fosses como eu queria que fosses. Como eu sempre quis que fosses, desde o primeiro dia que te vi e ainda não sabia o que eras. Gostava que tu fosses como não eras, como não és. gostava que fosses não tu. gostava de ter amado uma pessoa diferente e não a ideia da pessoa que gostava que fosses. comecei por amar a pessoa que gostava fosses, depois odiei-te, depois amei-te, e acabei por estragar um amor impossível.