sábado, 26 de janeiro de 2013


Agarra-te ao teu dinheiro e às tuas coisas. Esquece os teus sonhos. Queres ser mãe, queres ter um bom casamento, um bom marido e os filhos mais queridos de sempre. Esqueceste o essencial. Espero que um dia te apercebas e não seja tarde demais. Tu dizes que não percebes como é que aqueles miúdos chegaram onde chegaram, não percebes como é que os pais deixaram. E tu que és um tão bom exemplo disso. Agarra-te ao teu dinheiro com força. Vais ficar amarga. Vazia. Fútil. Tenta viver assim. Tenta imaginar-te com os teus sonhos partidos. Perdidos. Tenta comprá-los. Tenta viver essa vida vazia. Tenta viver sem amor.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


É incrível como as coisas nos tocam. É inexplicável a qualidade e a força das coisas. Das coisas enquanto objectos. Que com o passar do tempo se tornam mais que isso. É inacreditável a quantidade de informação que consegue guardar um simples cartão. Que certo dia nos fez pensar e lembrar que fomos amados. Um cartão sem nada escrito, ou nada que importe pelo menos. A nossa capacidade de guardar imagens feitas na nossa cabeça. Criadas na nossa cabeça. Hoje peguei num cartão que me fez lembrar de ti. De repente foi como se me amasses de volta, de novo. Como se o teu amor não tivesse morrido, foram segundos em que peguei naquele cartão como se da tua mão se tratasse. Sorri. Olhei e sorri mais um bocadinho. Dos momentos que foram bons. No fim, passei pelo lixo e deixei-o lá. O cartão. As lembranças ficaram, mas ficam melhore escondidas, mesmo as não lembradas. Deixei o teu amor morto para trás, vim agarrar um novo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


E morreram juntos. Os dois, separados morreram juntos. Abraçaram-se pela última vez no dia em ele correu de armas e bagagem para a bandeira manchada de sangue. Ele iria sempre pensar nela como pensou naquela noite, ao olhar as estrelas e a queda delas. Ela iria sempre pensar nele como naquele fim de tarde, em que o sol se mergulhava mais uma vez no mar infindável. Ele ficou por terras desconhecidas, como muitos outros, desaparecido. Famílias destroçadas. O que viveu foi a lembrança e a certeza que quando ela olhava para tudo o que tinha belo dentro, se lembraria dele. Ainda sentia os seus braços em volta de si quando passava sua mão pelos seus braços. Os olhos dela nunca mais brilhariam como brilharam. Brilhariam se os lábios dele voltassem a tocar nos dela. Mas a esperança morreu com ele, a mascara nasceu. Aprendeu a esconder lágrimas por baixo de sorrisos, aprendeu a usar o seu disfarce de dama. Mas no seu íntimo, nos seus momentos seus, em que se escondia do mundo e se sentava a ver o sol a mergulhar no mar, a olhar as estrelas e a queda destas, ainda chorava. E ainda chorava no dia em que, rodeada dos seus filhos e netos, caída no chão, atacada por uma paragem cardíaca, morreu pela segunda vez.