Estes sapatos já estão tão velhos, a solas estão mais que gastas, e os buracos no
fundo já me começam a magoar os pés. Parece que todo o corpo me doí com estes sapatos
Mas gosto tanto deles, foram os meus primeiros sapatos de senhor, foi com eles que
cresci e me tornei o que sou hoje. Foi com eles que passei os melhores momentos em
Barcelona e em Dublin. Deixa-me triste olhar para eles assim, já tão velhos e usados.
Podia bem ter tomado melhor conta deles, podia até ter mandado por umas solas novas,
e ter reparado aquele rasgão que começou por ser pequeno. Pensei sempre que
iria ser mais fácil e barato comprar uns novos, mas agora deixa-me de rastos vê-los ir
embora sem remédio. Velhos e podres por dentro. E isto era tão mais fácil se estivesse
a falar de sapatos.
terça-feira, 11 de março de 2014
sábado, 8 de março de 2014
Fornalha velha, cheia de restos de carvão, cinzas e brasas que
ainda doem de tão acesas. Ainda sinto o cheiro do fumo negro que
nunca se foi e que dia-a-dia me parece maior e mais denso. Oh
fornalha velha, que me continuas a matar, a corroer devagarinho, com
ódio e carinho, feitos de mágoa e vinho, de impotência e dor. Como
se o tempo não passasse no coração, envelhecendo a pele
lentamente, mas agora consciente que tudo é tão em vão. Continuo a
desnascer, a desvanecer e desaparecer, até à marca apagada, que
será a minha chegada, à idade de morrer.
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