terça-feira, 26 de junho de 2012

S de Jéssica


Os amores e as paixões. As compaixões. Que se juram, que se trocam, amarrotam, se destroem. Na tentativa de ter nos olhos o brilho a que muitos nunca tiveram direito. Talvez os que o tiveram em demasia em parte da sua vida estejam impedidos de o ter. Porque o idealizam. Porque os ideais são impossíveis. Pelo menos os ideais futuros. E eras tu Jéssica. Eras tu quem eu queria que me pertencesse a pele. A tua posse dos meus olhos não chega. Tu e esse teu vestido branco. No dia em que te vi deitada naquele campo. Eu sabia que um dia serias minha. Foi pena ter sido apenas naquele dia. Mas porque é que tiveste de reagir daquela forma? Podíamos ter casado. Teríamos bonitos filhos de cabelo preto. Pequeninos e rechonchudos como tu. Podíamos ter voltado àquele campo outra vez. De onde tu não saíste. De mãos dadas. Podíamos ter feito piqueniques, podíamos ter ido ao banho ao rio. Comprávamos uma casa no campo, ou na cidade, como quisesses. Agora não fazes mais nada que ver a lua. E podíamos ter visto a lua juntos. Escusavas de ter dito que não. E eu escusava de ter reagido daquela forma. Seria perfeito. Mas os ideais futuros são impossíveis. Assim como esses teus lábios pintados de vermelho são impossíveis, e as tuas maçãs do rosto pintadas de vermelho são impossíveis e os meus pensamentos. Mas os teus olhos pintados de roxo foram possíveis, mas esses não faziam parte dos meus ideais. Agora os teus olhos deixam-me triste. E foste só mais uma. E agora és só a lembrança acabada. E estás Só. E foi do S de só que veio o teu nome, Jéssica.
Já não sinto nada. Nem o tal carinho que eu julguei ser para sempre. Como se o impossível fosse possível e a indiferença agora fosse mais forte. Tudo o que foi, passou, evaporou-se. Já não és nada. Melhor que o tempo, só a distância. Afasta tudo. Até o que julguei ser para sempre. Até quem julguei ser para sempre. Desapareceu.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Hoje sonhei connosco


Hoje sonhei connosco. Juntos. No futuro. Eu e tu de mãos dadas como um casal que resultou e resulta. Como se os desentendimentos tivessem sido nada, não tivessem passado de nada. Como se o desejo fosse suficiente. Hoje sonhei contigo de mãos dadas comigo. Contigo num mundo desconhecido, numa cidade desconhecida, com véus que se prendiam à tua cabeça e se arrastavam no chão atrás de ti. Com passados que se prendiam à cabeça dos dois e se arrastavam atrás de nós, que nos amarravam os pulsos, os meus aos teus, que nos guiavam e liam os olhares, que apontavam para um futuro na mesma direcção. Hoje sonhei contigo como se o amor fosse suficiente, como se o que sentimos agora e não sabemos bem o que é, fosse suficiente. Como se eu fosse suficiente para ti, e tu para mim. Hoje sonhei connosco com saudades, nós com saudades de tudo o que vivemos e eu com saudades do que podemos viver, ou ter vivido. Hoje sonhei connosco para acordar com o coração maior que ontem, mas amarrado, engaiolado, preso à espectativa e à resposta que quero e acredito poder vir da tua boca. Hoje sonhei connosco para despertar com as maiores certezas e as maiores dúvidas do mundo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

E morro da saudade, mesmo antes de um de nós partir.


Há vidas e vidas. Há vidas de saudades e prazer, de luxo e doer. De quem partiu à procura e encontrou na distância a prata. Há vidas de amor e famílias, de heranças vazias, mas de heranças de ouro, já que não há maior presente e poder que a educação no amor. Já vi o meu destino em rodas de autocarros, em rodas de carros e abraços apertados matinais maternais. Agora que o futuro me mostrou as asas, que me abriu os olhos a viagens infinitas e saudades quase inesgotáveis, agora que as portas da maturidade se abriram, para me mostrar que o futuro que era o futuro não existe, que o futuro do passado não existe… fico perdido no espaço e no tempo como se a luz não existisse, como não houvesse uma saída, como se por todo o lado fosse perder metade do meu coração. Trago-te as mãos ao peito, trago os teus lábios comigo, para eu conseguir sentir o sabor a sal, ou fico com eles guardados nos bolsos para te dar a ti a calma do mar. Como se existisse uma saída certa, como se uma das portas fosse a correcta, como se o futuro fosse pleno por um dos lados, a minha cabeça explode de pensamentos exaustivos e complexos… E morro da saudade, mesmo antes de um de nós partir.