quarta-feira, 29 de junho de 2016

A paisagem da cidade banha-te as costas, o sol ilumina-te de dourado, é a tua cor... Tu encostada ao muro, e eu fantasma, debaixo da sombra rendilhada pelas folhas da árvore velha que está ao teu lado. Observo-te e duvido se o tempo realmente parou, serena como a brisa que te acaricia as pernas e põe o teu vestido a dançar. Olho-te, e tu olhas para ele, neste momento temos algo em comum. Enquanto compartilhamos o mesmo espaço, ambos apaixonados, a metros um do outro, olhamos para quem queremos abraçar... é o mais próximo que alguma vez vou estar do teu amor. Ele, agarrado a uma guitarra que soa melhor que todas as outras, e tu, ao lado dele, descalça, encostada ao muro, alimentas-te de toda a energia viva da terra, fazes tudo o resto parar de existir, enquanto cantas pela voz de tudo o que é bom. A paisagem da cidade banha-vos as costas e ilumina-vos de dourado, a vossa cor, juntos, enquadrados no único sitio no mundo onde o tempo anda. O quadro perfeito, em tons do castanho claro do teu cabelo agora dourado, e o verde da árvore velha, com cheiro a terra e o encadeamento de notas mais bonito de sempre. E eu fantasma, ali, como se não estivesse, como se nada mais existisse, ainda na sombra da antiga árvore, espero que venha o meu tempo.

domingo, 26 de junho de 2016

Tu inspiras-me. Dás me uma força que há anos que não sentia. E isso é melhor que qualquer outro tipo de amor. A tua energia, a tua garra que eu já admiro. A tua vontade de viver, a tua vontade de sentir. Quero-te ao pé de mim. Seja onde for que estejas, seja onde for que eu esteja. Quero-te junto a mim. Quero que sintas o meu peito e ouças o que tenho guardado quando penso em ti. Quero que isto continue. Seja por que caminho for, quero-te ao meu lado, de braço dado, de segredos no ouvido. Quero ser o teu melhor amigo. Sinto a pele e sinto a dor permanente no joelho, sinto o meu corpo de novo e o chão por baixo dos pés. Sinto a pele quente, sinto o passarinho a voar perto. Estou de volta.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

É para as tuas palavras que corro. São como um abraço apertado que me tira momentaneamente a solidão tão minha, já enraizada. Foi para as tuas palavras que corri e foram elas como os teus braços, que me receberam de volta. Precisei livrar-me do feitiço pesado que me pesava, que me escamava a pele e me mantinha numa neblina eterna, continua, em que aprendi a viver. Para te ver lá do fundo como uma mão que me puxa para fora e perceber quem eras. Foi para a tua luz que corri quando estava enterrado, quando a sombra me atava os pés. Agora que a luz fina me ilumina a cabeça a partir do peito, eu sombra meio iluminada, e tu parte da luz que me ilumina, vejo, ainda rente ao chão, mas já sem neblina, as primeiras pedras da calçada, os primeiros tufos de relva a balançar ao vento. E tu, mão inocente, não percebes o quanto umas simples palavras fazem toda a diferença.

domingo, 19 de junho de 2016

Obrigado. Por me elevares sempre o espírito. Seja com gargalhadas que vão dos 0 aos 100 em frações de segundos, ou com as festas que me fazes no existir. Obrigado.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Hoje conheci um passaro. Verde com penas azuis assimétricas, sujas. Ouvi o seu cantar ao longe, que cantar tão estranho, ao longe parecia a batida de uma boîte dos anos 80. À medida que se aproximava comecei a discernir o que cantava.... and if a double-decker bus crashes into us, to die by your side it's such a heavenly way to die... O meu coração aqueceu.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Continuo agarrado ao 6 como se não houvesse mais nenhum. Passei pelo 7 feliz e cuspi-lhe em cima para me agarrar ao 6. Continuo a cuspir no futuro sem lhe olhar nos olhos. E continuo a escrever como se me servisse de alguma coisa, como servisse sequer de desabafo, como se me aju

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A depressão é a única coisa que não te pode salvar. O mundo visto pelo gargalo de uma garrafa, afogado e afunilado. Hoje combato ter força para me levantar, literalmente. Hoje, no primeiro de dois dias do ano que deveria estar ao teu lado, tento soltar as amarras que me pus a mim mesmo só para poder correr para ti, para poder abraçar-te, não sei se por ti, se por mim. O meu coração quase me sai de dentro, quase me rebenta de tão forte batida. Só te queria perguntar como estás, e tirar esta angustia em tamanho de bola de ténis que tenho a marcar o tempo com o coração. Só te queria ouvir dizer que estás bem, embora eu saiba que não estarás, só te queria dizer que estou aqui, e estarei sempre que precisares, mas não posso. Infelizmente não posso, talvez me vá arrepender, talvez já esteja arrependido antes de não o fazer, e a solidão não ajuda nada.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Eu estou em pé, no centro de um corredor apertado. O tempo passa por mim, como uma corrente de ar tingida de preto que vem de trás e embate contra as minhas costas como que tentando empurrar-me para a frente mas sem força suficiente, eu ouço-o a assobiar quando roça os meus ombros. Eu estou em pé, parado. Confuso, tento perceber como é que faço com que aquela perna vá para a frente. Por vezes quase que lá chego, estou mesmo quase lá, estava mesmo quase lá, estive mesmo quase lá várias vezes. Mas o pássaro pintado, passa constantemente aqui no corredor a voar livre, e leva consigo toda a atenção e o esforço que faço durante todo o dia. Ás vezes ainda grito "ó passaro!", ás vezes até parece que se ri, outras como se não conseguisse ouvir, com o barulho do tempo, continua. E eu continuo aqui, focado na minha perna esquerda, a tentar que vá em frente, confuso, sem saber como funcionam os músculos das pernas... ninguém me ensinou e eu não consigo aprender sozinho. Afundado neste barulho grave indecifrável como se debaixo de àgua, a tentar perceber o que se passa à minha volta, a tentar perceber o porquê deste corredor estar iluminado com luz vermelha, onde é que eu estou.
Hoje escrevi dois ou três textos. Em papel e na minha cabeça. Não os posso publicar porque são do mais exposto que já estive. São do mais visceral que já escrevi. E é como se não os tivesse escrito. As minhas entranhas à vista de todos, os meus olhos no sitio do costume. O coração junto aos olhos. E nem são bons sequer. Gostava de poder escrever tudo o que me vem à cabeça, mas isto deixaria de ser um blogue, e embora eu não goste da palavra (blogue), acho que ficamos melhor assim. A falar de coisas em metáforas, com duplos sentidos e com sitio por onde fugir.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Junho + Maio

A dois de Junho, Maio ainda não acabou. Consegui arrastar Maio e somar a Junho. E que belo resultado. Hoje já me faz sentido quando a minha Mãe diz "tu eras enorme quando nasceste, não sei como é que cabias". Acho mesmo que veio usado, o meu corpo, já tinha tido um dono anterior, mais esperto que eu... Não tá bom volta pra trás! Era o que eu devia ter feito também. Para a próxima vou me tentar lembrar "tu vais ficar com isto até morreres".