segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Já alguma vez quiseste morrer?
Eu penso a toda a hora nisto. No momento em que a inexistência toda conta de mim. Sou finalmente livre para ser como quero, para ser quem quero, para ser vazio, ser nada.
A dor que se apoderou de mim em tempos hoje é dormência. A dormência que me desprende de tudo, e ao mesmo tempo me apega a tudo como parasita, a viver às contas do sangue dos vizinhos. A viver da energia que toda a gente me manda. Eu sou um sortudo, sempre fui. Toda a gente me dá tanto amor que já não quero mais viver. Assim como não quereria se me dessem desamor.
Eu só queria viver se morresse. Quando estiver morto vou talvez querer estar vivo.
Eu apego-me de tal forma a tudo o que aparece, e procuro sempre tanto a perfeição, que quando roço quero morrer. Eu não quero ser bom, eu não quero ser o melhor. E nem que eu finja, nem que eu force ser mau, nem que me tenha de desapegar de tudo para ser mau. Nem que me tenha de desamarrar de todos para não me quererem. Para ter de procurar de novo, falhar, ser infeliz, e querer morrer. Mas desta vez com tristeza, deixar a dormência para trás e agarrar a miséria, para que tenha força finalmente. Para que consiga ser como tu foste, para que consiga fazer como fizeste, como sempre quis fazer como fizeste. Até nisto foste à minha frente. Procuro a felicidade negada, procuro a miséria escondida, procuro o desamor e a inexistência. Procuro a morte.