segunda-feira, 6 de junho de 2016

Eu estou em pé, no centro de um corredor apertado. O tempo passa por mim, como uma corrente de ar tingida de preto que vem de trás e embate contra as minhas costas como que tentando empurrar-me para a frente mas sem força suficiente, eu ouço-o a assobiar quando roça os meus ombros. Eu estou em pé, parado. Confuso, tento perceber como é que faço com que aquela perna vá para a frente. Por vezes quase que lá chego, estou mesmo quase lá, estava mesmo quase lá, estive mesmo quase lá várias vezes. Mas o pássaro pintado, passa constantemente aqui no corredor a voar livre, e leva consigo toda a atenção e o esforço que faço durante todo o dia. Ás vezes ainda grito "ó passaro!", ás vezes até parece que se ri, outras como se não conseguisse ouvir, com o barulho do tempo, continua. E eu continuo aqui, focado na minha perna esquerda, a tentar que vá em frente, confuso, sem saber como funcionam os músculos das pernas... ninguém me ensinou e eu não consigo aprender sozinho. Afundado neste barulho grave indecifrável como se debaixo de àgua, a tentar perceber o que se passa à minha volta, a tentar perceber o porquê deste corredor estar iluminado com luz vermelha, onde é que eu estou.

Sem comentários:

Enviar um comentário