Nesta época associada a dar. Nesta quadra ligada à solidariedade,
em que as pessoas aparentam querer ver o outro feliz, embora continuem a gritar
filho da puta quando passam o sinal vermelho, ou param com o amarelo. Eu
aproveito para ser egoísta, para pensar em mim e em todas as coisas que não
tenho. Não estou a falar de plástico. Paro para ouvir homens a caminharem no
escuro, e deixo o meu corpo liberto a todos os sentidos. Paro para saborear
toda a tristeza que se apega do meu coração, a escuridão. E deixo-me ao ritmo
de passos baixos e baços, apago as luzes, danço no escuro. Nesta época que está
associada ao amor, sinto-me vazio, sinto-me sozinho. Tomo o pequeno-almoço
sozinho, almoço sozinho, e mesmo ao final da noite, quando estiver cá gente,
vou estar sozinho, vou continuar vazio. De olhos no chão, com as luzes piscarem,
e a dançar no escuro.
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