sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


E morreram juntos. Os dois, separados morreram juntos. Abraçaram-se pela última vez no dia em ele correu de armas e bagagem para a bandeira manchada de sangue. Ele iria sempre pensar nela como pensou naquela noite, ao olhar as estrelas e a queda delas. Ela iria sempre pensar nele como naquele fim de tarde, em que o sol se mergulhava mais uma vez no mar infindável. Ele ficou por terras desconhecidas, como muitos outros, desaparecido. Famílias destroçadas. O que viveu foi a lembrança e a certeza que quando ela olhava para tudo o que tinha belo dentro, se lembraria dele. Ainda sentia os seus braços em volta de si quando passava sua mão pelos seus braços. Os olhos dela nunca mais brilhariam como brilharam. Brilhariam se os lábios dele voltassem a tocar nos dela. Mas a esperança morreu com ele, a mascara nasceu. Aprendeu a esconder lágrimas por baixo de sorrisos, aprendeu a usar o seu disfarce de dama. Mas no seu íntimo, nos seus momentos seus, em que se escondia do mundo e se sentava a ver o sol a mergulhar no mar, a olhar as estrelas e a queda destas, ainda chorava. E ainda chorava no dia em que, rodeada dos seus filhos e netos, caída no chão, atacada por uma paragem cardíaca, morreu pela segunda vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário