sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Este texto não é sobre ti.

Hoje apetece-me escrever. Embora não tenha qualquer vontade. Embora não queira chegar a um produto final porque já sei sobre o que vai ser. Hoje apetece-me escrever, pensei pra mim mesmo. Hoje apetece-me escrever mas não vou escrever para ti. Este não vai ser sobre ti. Quando me partiste o coração, todos os dias, eu só imaginava o meu corpo a esmagar-se contra o rio Tejo, sangue e ossos partidos. Hoje só penso que não quero escrever sobre ti. Sobre ti já esgotei todos os pensamentos, todas as palavras, já está tudo dito. Este texto vai ser sobre alguma coisa linda, que me faça feliz nos pensamentos. Que não me faça ver as cicatrizes, os remendos na pele, as marcas dos beijos, os ossos com falta de aperto e calor. Este texto não vai ser sobre ti nem a forma como me deixaste sem me teres. Quando me partiste o coração, e eu só imaginava o meu corpo moribundo dentro do Tejo, porque até não me importava de morrer dentro de água. Este texto não vai ser sobre isso. Este texto não vai ser sobre o facto de eu preferir morrer a não te ter, de eu preferir decompor dentro de água, se não me encontrassem, a não te ter. Não vou escrever sobre preferir estar deitado numa marquesa, se me encontrarem, com cheiro putrefacto e com uma etiqueta no dedo do pé. Morto. Nem vou escrever sobre o quão linda tu serias a dançar no meu caixão, com um vestido de lantejoulas. Neste texto não vou escrever sobre ti, apesar de este texto ser mais tu do que eu alguma vez tive. Embora este texto seja mais tu do que letras.

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