quinta-feira, 8 de março de 2018

Há dias que não acontece nada. O meu corpo aqui, encaixado na cadeira a ver o sol a por-se mas pela extinção da luz que entra pela janela. E de repente passam se meses, sem as rodas mexerem um centímetro, só acumulando pó nas prateleiras. Há dias em que não acontece nada. Aconteço eu porque existo, e quando menos acontecem menos acontecimentos há. Mas há outros, em que acontecem coisas. E em contraste, parece que acontece tudo. Que de repente o mundo não é só este meu canto, mas milhões de outros seres que vivem e que acontecem. De repente há pessoas que endoidecem, que se passam e se tornam pessoas desconhecidas, mesmo aos que viveram a vida toda com eles. Mesmo que há uma semana parecessem as mesmas. De repente há pessoas que morrem, e que parecem tão próximas, mesmo que nunca tenha ouvido a sua voz. Que sem sinal, de um dia para o outro, deixam de existe, desaparecem. E com elas as fotos e os poetas e os textos e as exposições. Porque o tempo ás vezes anda. De repente mal me sento na cadeira, porque afinal há quem se lembre de mim e eu tivesse voz para dizer o que penso, e escrever o que sinto. Tanta dormência acordada, que choca, que me lembra que a vida é uma merda, mas existe. E eu ainda estou cá.

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