quarta-feira, 13 de julho de 2016

Diário ep1 | Entranhas

Em grande parte do  tempo em que sobrevivo, estou dormente. Acompanhando a tendência da sociedade. Agarrar nas coisas como mais que isso, com o cérebro paralisado pela luz que se reflecte na minha cara cegando-me e adormecendo-me do que me rodeia e iludindo-me que sou feliz.
Por outras vezes (muitas vezes) penso em mim, na minha vida, no estado da minha vida, nas pessoas que tenho e que tive, na carreira que não tenho, nas decisões que tomei, nas escolhas que fiz e nas que não fiz. Penso no meu caminho, passado até ao futuro, nas saídas, nos desvios, nos reencontros, nos desencontros e nos outros, os outros de fora, e os outros de dentro. A forma de lidar com tudo isto é querer morrer. Sempre. Se não posso ser quem queria ser, mais vale não ser, mais vale dar um tiro na cabeça. Essa imagem repetida ao expoente da loucura, nunca doce. Tão repetida que aqui dentro já não há alarme, "qualquer dia vai acontecer". Quando penso nisto tantas vezes que é quase verdade a primeira coisa que me demove é a cara da minha mãe, essa imagem, a imagem de uma pessoa morta por dentro e de preto por fora, os olhos vidrados. O resto mais cedo ou mais tarde aceitaria. Quando me dizem que não percebem a atitude a minha resposta raramente é sincera, eu compreendo perfeitamente. Gostava de não perceber. Hoje olho para as minhas mãos, pousadas no teclado que vos escreve e vejo alguém que anda á deriva, sem sentido, raramente me reconheço no espelho e raramente tenho energia suficiente para me querer reconhecer. Cheio de imagens na cabeça, flashes, sons e cheiros, estou a morrer aos poucos... e se for para morrer, quero que seja de uma só vez.


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