segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fronteira


Vivemos com os pés no chão e a cabeça no ar, por vezes temos mais os pés no chão, outras mais a cabeça no ar. Quando temos só os pés no chão, habitualmente, as mãos seguram a cabeça que o ar não aguenta. Quando temos só a cabeça no ar, os pés não sabem o que fazem e só não se perdem porque as pernas os seguram. Mas viver com a cabeça no ar é viver dormente, é ser tolo. É andar de olhos fechados, é sorrir de olhos fechados. Já viver só com os pés no chão é sofrer, como sofro por te ter e não te ter. É ter o sangue a fluir por todo o corpo, é dormir de olhos abertos, de joelhos no chão, com um espeto no meio do peito, algemado. Não sei se é preferível ser tolo se dorido. Preferia ser dorido de grãozinho na asa, com a ressaca curada e a barriga cheia de vinho. Preferia ser apreciador das dores de coração e saber levá-las ao melhor de mim. O amor é viver com a cabeça no ar e os pés no chão, descalço. O amor vive em mim com chão de espinhos, mas eu acredito nele, como acredito no sangue derramado no chão. 

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