quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Ela acorda todos os dias da mesma forma. Os olhos parados no tecto pintado de branco. E lá dentro, o branco reflecte-se. A olhar para o vazio sente-se em casa. Viciada em vidas paralelas. Em vidas cheias de vida. Os olhos vidrados e iluminados pela janela que lhe faz estar o mais próximo possível com a vida. Ela vive todos os dias da mesma forma. A mente viaja rápido para pertencer a uma qualquer personagem, homem ou mulher, não interessa o género, interessa o sentimento. A viver no meio da metrópole, da janela de vidro ouvem-se os carros e as suas buzinas, as pessoas e os seus sapatos a baterem na calçada. Tudo tão desinteressante, tudo tão corriqueiro, veneno quotidiano que a mata a cada segundo. A sua vida passa-se na janela com luz reflectida que lhe cansa os olhos. A fantasia da realidade que é a realidade dela, que a faz estar mais próxima da vida impossível que gostava de ter. O desapontamento, a indiferença a toda a realidade que lhe corre à volta, a corrida das 19h para o metro, a rotina esfaqueante que a desventra, a monotonia que a adormece. A vida passada a olhar para o ecran, onde a vida é finalmente interessante, onde vive o seu presente, onde se sentiu viva pela primeira vez. E a dor de vê-la de tão longe, de lhe ter acesso negado e restrito(...)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário