sexta-feira, 16 de março de 2012

Cai sobre nós a escuridão

Cai sobre nós a escuridão. O enegrecer do céu nos teus olhos. Permanece uma réstia de esperança representada e presente no teu sorriso de canto dos lábios. Quase imperceptível. Pelos teus piercings, pelo orifício onde o metal te atravessa duas vezes o nariz e o lábio, sai o ódio que tens pelo mundo, devagar. E o mundo responde com o olhar igual aos teus piercings, gelados. Mas eu não. A minha mão nas tuas costas, a minha mão sobre a tua pele branca por baixo da tua t-shirt, representa o amor que nunca tiveste, o meu. E o teu amor por mim, qualquer coisa que nunca esperaste ver em caras barbudas. Despes-te de preconceitos e da roupa que os esconde, mostras as cicatrizes que não se vêem em fotografias, mostras o teu sexo. Cai sobre nós a escuridão. Os nossos olhares cruzados em quintas diminutas. Deitados num tempo e num espaço que não existe, rodeado de fumo preto, com vignette. Vistos pelos olhos do grande irmão, que sobrevoa toda a sala por cima de nós, em câmara lenta. Um som crescente e agudo com ondas sinusoidais que nos permitem a percepção da mudança de amplitude traduzida no volume, misturado com gemidos. As tuas unhas espetadas no meu peito. Caiu sobre nós a escuridão, e com ela misturou-se o amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário